11 julho 2009

Santa Irmandade...

Ouvi da tua boca coisas que não dizias há muito tempo, bem acho que não me lembro, de todo, de alguma vez teres dito algo do género. Sabia que era importante para ti, mas não sabia que te fazia falta até nas situações mais básicas. São 17 anos de convivência com muitas zangas nas entrelinhas, com muitas discussões que nos levam ao mais alto estado de nervos, mas com muitos momentos de companheirismo, muitas maluquices e muitos disparates saídos da boca para fora, muitas gargalhadas e muitas respostas "tortas".


As lembranças ficam, algumas más, mas outras boas... A bota que voa e parte o vidro de uma moldura, o nariz constantemente arranhado, os dentes literalmente pendurados por um fio, as botas sempre esmurradas à frente, a cabeça rachada, alguns estalos à mistura, o desespero de se ser irmã mais velha e não ter sossego, a "joaninha" com que tantas vezes descemos a rampa de paralelos (e que deixou tantas mazelas em mim como em ti), as minhas bonecas sempre de cabeça arrancada (entretanto colavam-se e eu tinha que brincar com as desgraçadas na mesma, ainda que não gostasse delas), os meus peluches que insistias em arrancar os olhos, aquela bicicleta roxa em que eu mal podia tocar (graças aos teus devaneios e ataques de inveja), os jogos de computador que eram sempre disputados com alguns puxões de cabelos, os teus nervos, as queimaduras na barriga e nas costas graças à maravilhosa queda de bicicleta, o "acidente" de kart, as correrias pelo corredor de casa que acabavam sempre com um pontapé no traseiro e com a pergunta maravilhosa "o que é que se passa?!?!?!", todas aquelas vezes que levávamos com a colher de pau nas mãos e todas as outras em que só podíamos entrar em casa quando fôssemos "amigos", e entretanto passávamos um quarto de hora encostados ao portão de casa, a regelar. A ideia, bastante descabida diga-se, de brincar aos sustos, a tua típica frase "oh mãe, olha ela, a armar-se em mulher!!!", os teus "desejos" de massa à lavrador, e todas aquela tiradas de generosidade em demasia que algumas vezes se dispensavam.


Deixaste de ser "o Kiko", passaste a ser "o Puto", porque apesar de mais novo passaste-me em altura (o que não é difícil) e toda a gente acha que és meis velho do que eu. Não é já notória aquela diferença de idades que eu e toda a gente considerava abismal. Cresceste em idade, em altura e esperemos que em mentalidade, "Puto". Mas vais ser sempre o chato do irmão mais novo que não deixa fazer nada e só atrapalha. Ah, e gostei de ouvir "para onde vai a Pepa?".

1 comentário:

  1. não sei o que o "Puto" pensa do texto.
    eu vejo aí histórias hilariantes dos "meus dois amores".
    A cena do "vão para o portão e só voltam quando estiverem amigos" faz-me rir e traz-me à lembrança as brigas na cozinha a exasperarem-me com minudencias, rivalidades palermas, ciumes descabidos, competições para serem o mais querido da mãe (e são ambos), e que tudo terminava com a ordem dada aos "berros" do "vão para o portão ...", e volvidos dois segundos, voltavam abraçados a dizer "já somos amigos ...", e eu insistia "ainda não chega, vão lá para fora até serem muito amigos..."
    mãe sofre!
    valeu a pena.
    GS Sénior

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